Há boas razões para que tenham tido menos impacto do que o esperado as declarações do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), avaliando a possibilidade de apoiar, entre outros, a presidente Dilma Rousseff (PT) à reeleição em 2014. A primeira delas é que Neto já vinha fazendo insinuações neste sentido em privado, em diversas ocasiões, desde que foi eleito, e em público, a partir do momento em que faltou à convenção em que o PSDB praticamente ungiu o ex-governador Aécio Neves à condição de candidato presidencial no próximo ano.
A existência de especulações neste sentido de há muito, portanto, acabou com a possibilidade de qualquer buxixo maior em torno do tema agora. A segunda é que os aliados de Neto, principalmente aqueles que integram partidos interessados diretamente em seu apoio para o governo baiano em 2014, não parecem ter levado a possibilidade tão a sério, haja vista as declarações que foram provocados a dar pela imprensa em seguida à entrevista em que o prefeito de Salvador admitiu que não pode descartar apoio a ninguém em se tratando das eleições presidenciais de 2014.
O terceiro motivo para a repercussão reduzida sobre o novo ensaio do prefeito é que os petistas, virtualmente maiores beneficiários do suporte prometido para 2014 à sua líder maior, também trataram o tema com menos seriedade do que eventualmente mereceria. Aliás, se for padrão a opinião do presidente do PT baiano, Jonas Paulo, que todo mundo sabe não ser padrão algum no partido, ACM Neto está frito. Jonas praticamente descartou qualquer interesse no apoio do prefeito de Salvador à futura candidata Dilma Rousseff, por mais bem interessado que ele esteja, lembrando ao prefeito, pasmem todos, que ele foi eleito na oposição.
E todo mundo sabe que interesse deve ter sido o sentimento que predominou nas declarações do prefeito, que estrelou um jogo em que ele finge que se tomou de amores pela presidente e quem quiser finge acreditar nele, situação em que parece não ter se enquadrado o PT, se, como dito anteriormente, a opinião expressa pelo presidente do partido na Bahia for a da agremiação como um todo. Mas o que é que ACM Neto, que elegeu-se contrariando a tese da necessidade de alinhamento com os governos federal e estadual, brandida com status de ameaça pelo seu principal adversário, o petista Nelson Pelegrino, quer agora com esta nova batida?
Será que esqueceu-se de que foi exatamente o posicionamento altivo assumido na campanha de que a cidade podia andar com as próprias pernas, liderada por um político jovem e independente, um dos motivos porque milhares de eleitores preferiram apoiá-lo em detrimento do então todo-poderoso candidato do governador Jaques Wagner e da presidente Dilma Rousseff nas eleições municipais do ano passado? Ou será que concluiu, ante a visão que tem tido sobre os problemas da cidade na condição de prefeito, que teria sido melhor um petista como Pelegrino ter ganho as eleições?
Embora agora já sob forte insegurança, o eleitor do prefeito deve estar torcendo para que não, muito pelo contrário. Pois, com suas declarações na direção do PT, que já foram consideradas “dóceis” demais pelos próprios petistas durante um evento recente no qual o prefeito discursou ao lado do governador Jaques Wagner, Neto conseguiu confundir mais do que esclarecer a quem o escolheu e não a Pelegrino para comandar os destinos da cidade, independentemente dos desafios que certamente teria pela frente, como a própria campanha já sinalizava.
Afinal, ACM Neto nunca foi um estranho à máquina administrativa da Prefeitura. Apesar de ter negado na campanha e depois dela, participou do governo do antecessor, João Henrique (PP), que também insinua – mas nunca declarou objetivamente -, ter lhe deixado uma herança maldita, através de quadros importantes no primeiro e no segundo escalão, os quais continuam auxiliando-o ainda hoje na Prefeitura. Isto, por si só, já seria razão suficiente para não poder agora dizer que avaliou mal as dificuldades as quais decidiu voluntariamente enfrentar.
Portanto, voltando ao jogo que Neto decidiu criar para encenar provavelmente como protagonista, tudo indica que cumpre uma missão: passar a idéia ao PT de Jaques Wagner e Dilma Rousseff de que ele não quer briga, ao contrário, quer viver em paz e harmonia, acenando, inclusive, com a possibilidade de a presidente – o caso do governador é para um outro artigo – contar com sua ajuda para qualquer parada, inclusive derrotar o amigo de todas as horas com quem há registros de ter tido até agora uma pessoal, longa e profícua convivência, o ex-playboy-tucano Aécio Neves.
Assim, seguramente, o prefeito de Salvador deve acreditar que terá chances pelo menos de continuar sendo convidado para vários eventos ao lado do governador Jaques Wagner, principalmente para as solenidades que marcarão o início das intervenções que estão sendo programadas pelo Estado para a capital baiana, levando em conta o seu preparo para a Copa. E, pelo menos, poderá tomar parte nas fotos que registrarão os momentos grandiosos, como se também protagonista fosse da cena. Não deixa de ser muito pouco para quem teve a honra de personificar o movimento anti-petista no Estado.
* Artigo originalmente publicado na Tribuna da Bahia.